Amor, tinta e teimosia.

Quando vem um bebé e o tempo de sobra ainda existe, acho que a parte mais divertida é mesmo a preparação de tudo para receber esse pequeno humano e como o que gosto mesmo é de construir coisas, pintar, sujar as mãos e transformar, aliada à melhor partner de desenho e ilustração que podia ter (Mamã, claro! Isto das tintas tinha de ser coisa de família!), como me irrita ter de gastar dinheiro em coisas que posso fazer (ainda por cima personalizadas) e como acredito que o amor está nos detalhes, lá foi surgindo o quarto do meu Coquinho.

Tudo começou com um móvel antigo muito escuro, que estava a atrapalhar a arrecadação de uma vizinha. Como andava numa de arranjar móveis e transformá-los, ela muito amavelmente mo ofereceu.



Lá o fui buscar e lhe “dei uma volta”, e de idoso lá se renovou e ganhou uma vida completamente diferente. Entretanto lá esqueci o assunto no atelier do meu pai... (Mal sabia eu que o Coquinho estava a caminho!)






Quando começámos a pensar na transformação do quarto do meu pequeno humano, lá me lembrei novamente do móvel e como tinha na ideia um quarto simples, sem muita coisa (para ser prático de limpar e arrumar), pareceu-me perfeito para arrumação e “mesa de trabalho” de fraldas. Ainda sim achei-o demasiado sério e precisava de um toque infantil, por isso lá pesquisei várias imagens (e creio que com a história do veganismo esteja implícito o amor que tenho à bicharada) encontrei duas crias lindinhas de raposa e de coelho que lhe acentaram que nem uma luva.


Porquê uma raposa? Gosto de raposas.

Porquê um coelho? É um quarto de bebé, tinha que ter algum cliché!

E os pequenos peludos resultaram fantasticamente um com o outro.


Então comecei a procurar o berço.


De todos os que vi, achei os modelos de berços standartizados, muito parecidos uns com os outros e com diferenças de preço abismais quando na verdade a unica coisa que mudava era a curva da cabeceira, a cor ou pouco mais.

Como não encontrei nenhum de que me enamorasse pensei “Não! Eu Sozinha!” - Era o que dizia à minha mãe com 4 anos quando não lhe queria dar a mão para atravessar a estrada.
Construir um berço não ia ser diferente.

Lá me pus a esboçar o que queria, pesquisei acerca das normas e medidas padrão de berço que eram consideradas seguras, fui para o atelier do meu pai e meti mãos à obra.


Gosto do contraste de formas desenhadas com formas naturais e tentei tirar partido disso. Não quis uma gaiola para pôr o meu bebé a dormir e pensei mais num género de cabana.



O meu pai tinha apanhado pelo caminho uns troncos de umas árvores que tinham sido podadas e quando os vi, eram exactamente aquilo que tinha em mente.

 

Meia dúzia de madeiras, parafusos, tinta e 48h depois, já tinha o meu fantástico berço handmade e único pronto!



Quanto ao resto do quarto, nem eu nem a minha mãe tinhamos nenhuma ideia definida.

Eu apenas sabia que queria que tivesse a ver com terra, animais, Natureza.


Às três cores de tinta que já tinhamos por casa (azul, amarelo e vermelho) juntei uma lata de tinta branca e deu-nos margem para fazer uma vasta de gama de cores diferentes. Como não me estava muito a apetecer cair na história do “azul é de menino, rosa é de menina” e queria uma cor que desse um ar quente e acolhedor o quarto, lá parti para um salmão alaranjado que ficou e para não tornar a coisa muito estática nem monocromática, a minha mãe (que é daquelas com olho para o detalhe) sugeriu um friso de riscas brancas com um azul acizentado muita bonito, que já tinhamos.



A partir daqui foram-se adicionando elementos e o tecto (a minha mãe já tinha na ideia um trompe l’oeil, uma ilusão pintada de uma clarabóia aberta, talvez nocturno, com uma coruja a entrar quarto dentro. Mas como o quarto é pequeno achámos que ficaria com pouca luz. Por isso optámos por um céu diurno, e como é para um bebé: cheio de andorinhas, que representam as boas novas!




Como viagens trazem sempre novos mundos, novas possibilidades, novo futuros e novos sonhos, e como do centro do tecto cai um fio com uma lâmpada...que abajour melhor se adquaria do que um balão de ar quente no meio do céu?




Lá fiz o meu candeeiro com artigos simples, baratos e fáceis de encontrar (podem assistir ao video da construção do candeeiro aqui)




Mais tarde a minha mãe foi adicionando alguns pormenores pintados que representam cenas de algumas fábulas de La Fontaine:

Desenho original de Luz S. Miguel
Desenho original de Luz S. Miguel


No fundo a única coisa que comprei para o quartinho foi o colchão do berço e um par de mudas de cama.


Mais perfeito não podia ter ficado. :)



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